Edilson Avelino
Caro amigo Amauri,
A propósito dessa sua matéria sobre “A favelização do Centro Histórico de São José de Mipibu”, como já pode ter observado, nas minhas idas a São José, tenho evitado transitar pelas ruas e praças dessa cidade que aprendi, desde cedo, a amar.
São José de Mipibu, outrora, embalou meus sonhos, como também de outros tantos jovens estudantes que participavam efetivamente da vida sócio-cultural de nossa cidade. Tempo de casarões coloniais, de praça com coreto e jardins, onde a população podia transitar nos finais de semana, após a tradicional missa em nossa linda matriz.
Sou do tempo em que a única alteração cometida por esses jovens era uma saborosa vaia no relógio do campanário quando, este, ecoava as suas badaladas em descompasso com a hora, fosse pra mais ou pra menos. Era um tempo de pureza, até na forma de expressar um “protesto” juvenil.
Quantas vezes, “tia” Lourdes Fagundes, dona Euza Palhano, “seu” Zé da Bicicleta ou nosso queridíssimo Padre Antonio nos repreendia por essa vaia inconseqüente... E nós, com o devido respeito a essas figuras ilustres e queridas, parávamos a nossa ingênua bagunça e íamos pra casa, envergonhados da peraltice cometida... Bons tempos aqueles.
Mas, também era um tempo em que não víamos ninguém se atrever a desfigurar o patrimônio arquitetônico de São José, nossas praças e logradouros, tempo em que não víamos a nossa tradicional feira mergulhada no caos, não víamos carros de som pelas ruas competindo em decibéis, não víamos jovens se drogando abertamente à luz do dia ou da noite, não víamos túmulos serem violados impunemente, não havia bocas-de-fumo comercializando drogas livremente, não víamos assaltos ao comércio ou a pessoas, jamais vimos o Grupo Escolar Barão de Mipibu ser transformado em prisão de desordeiros nas grandes festas e eventos, nunca vimos blocos carnavalescos se agredirem por disputa de espaço e desorganização, nunca vimos corridas ou “pegas” de motos em plena via pública, enfim, são tantas as novidades tristes e lamentáveis que já não me interessa passear pela minha cidade quando aí estou. Quando muito, vou a uma padaria ou farmácia.
Fico triste, aborrecido e decepcionado com muitos de nossos companheiros que hoje, investidos de mandatos eletivos, se portam como se São José estivesse na mais perfeita ordem. Com raríssimas exceções, não se envolvem diretamente com nada. Fazem lá os seus discursos, divagam sobre os reais problemas da cidade, promovem audiências públicas com o objetivo de dar alguma satisfação aos seus fiéis e eternos eleitores e nada mais. De resto, a discussão primordial são os conchavos para o próximo mandato que, com certeza, já começam a montar a partir das novas mídias. E, algumas, quase sempre, estão a serviço dessas “legítimas lideranças”. Uma pena.
O clamor já se faz ouvir, visto que a situação, segundo as notícias que recebo, é gravíssima.
Resta saber se esse povo sofrido saberá montar trincheiras para se defender das próximas investidas dos seus algozes...
Pobre São José, eras tão linda e já não te reconheço. Conseguiram desfigurar teu corpo e tua alma. Um dia, que espero não demore, teus vilões responderão por tudo que te fizeram por ação predatória ou omissão.
Edílson Avelino (Didi Avelino)
Rio de Janeiro