O ateu confunde Deus com uma idéia. Eis uma provocação que merece um movimento discursivo e cíclico, ou seja, um aprofundamento onde um mediador enredaria uma partilha entre um crente e um ateu que se aventurariam a dizer as “motivações” da sua fé ou não crença em Deus.
Antes de qualquer desdobramento cabe a diferenciação do que seja “Crer e ter Fé”. Claro que aqui entraremos num jogo, que para alguns será retórico, já que, é impossível ter fé sem crer e crer sem ter fé. Vejamos alguns pontos:
1- A Fé: esta é uma virtude teologal, ou seja, é um dom sobrenatural concedido por Deus que permite ao Homem a comunhão com Ele. Ela existe com mais duas forças que são a Esperança e o Amor. A Fé e a Esperança pertencem só ao Homem. Elas preparam o ser humano para alcançar a plenitude da vida, que é o encontro com Deus. São Paulo fala das três, mas sem nunca esquecer quem é o pináculo da escalada (cf. 1 Cor 13,1-13). Se essa possibilidade é existencial e histórica, ela tem sua fonte em Deus, pois Ele é amor (cf. 1Jo 4,7-21) e nos conduz para o Amor. Deste modo podemos afirmar que a confusão que é feita por um ateu começa por falta de amor e que depois será substituído por uma idéia. O atual Papa, Pontífice e Teólogo, Bento XVI, vem refletindo e afirmando constantemente essa verdade teológica, epistemológica e humana. A Fé, como experiência humana, torna o humano inquieto e buscante de Deus, que é uma Pessoa, que se encarnou e habitou na História Humana (cf. Jo 1,14). A Fé nos leva ao encontro com este Mistério de Amor.
2- A Crença: esta é embasada por elementos objetivos. Estes são meios de construção e constituição da hierarquia das verdades. Em todas as religiões existem as crenças. No Cristianismo temos o “Símbolo Apostólico”, ou o “Credo” como comumente é conhecido. Ele preenche a necessidade subjetiva da pessoa, que deseja dar respostas aos questionamentos intrínsecos à experiência de quem crê. Estas verdades, conseqüências da única e eterna Verdade, para ser conteúdo da Revelação, precisam ser manifestada(s) por Deus (cf. Mt 16,16-17), através daqueles que foram encarregados de as guardar. Por isso, falamos do “Símbolo dos Apóstolos”. O apóstolo das gentes não contradiz a Tradição cristã quando trata da Fé como meio para justificação, em Cristo Jesus (cf. Rm 5). No Evangelho de S. João esta síntese teológica, cristológica e pneumatológica é tratada de forma complementar entre uma Fé que necessita crê e uma crença que precisa ter Fé.
O aprofundamento de como esta relação se deu no decorrer da História da Igreja nos colocaria diante de análises e um verdadeiro anseio de renovação evangelizadora e pastoral. O que é irrenunciável à sincera experiência de Fé é a conversão. Deixemos a indagação: as nossas “crenças” realmente foram instrumentos que ajudaram na mudança dos batizados e comunidades cristãs? Aqui incluímos todas as realidades eclesiais. O intento da V Conferência nos coloca diante deste imenso e necessário desafio da ação evangelizadora da Igreja da América Latina.
Por fim, confiemos na ação do Espírito da Verdade que, derramado sobre nós, pode nos unir e fortalecer para que o mundo creia e crendo tenha a vida eterna. A nossa crença não pode ser como a dos ateus, que se envenenaram com uma idéia, e sim como aquela que é qualificada pela Fé em Jesus Cristo que diz: “a tua fé de salvou!”(cf. Lc 18,42-43). Assim o seja!
Pe. Matias Soares
Pároco de São José de Mipibú-RN
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