quinta-feira, 23 de junho de 2011

CINEASTAS POTIGUARES INICIAM PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIO SOBRE MOBILIZAÇÕES SURGIDAS NAS REDES SOCIAIS




INCONFORMADOS


Nos últimos dias Natal pôs o pé na nova ordem mundial. As últimas mobilizações surgidas pelas redes sociais na cidade replicam revoltas eclodidas nos quatro cantos do mundo. E à espreita do movimento na província, três cineastas registravam as cenas históricas, inéditas: protestos contra a construção de espigões no Morro do Careca, pela quebra do cartel dos combustíveis, e pelo impeachment da prefeita. O material colhido será organizado, incrementado e transformado em documentário intitulado Inconformados!, no melhor estilo do polêmico documentarista Michael Moore.

O título serve de referência a qualquer revolta popular. Mas este diz respeito ao Maio de 1968 – a maior greve geral já vista. O movimento aconteceu no auge econômico capitalista do pós-guerra. A esquerda apagada viu surgir ali a revolução do proletariado e um novo tempo na história. Estrategistas do capital ou marxistas da época sequer sonhavam com essa mobilização. E após quatro décadas de hiato revolucionário, as redes sociais têm provocado a força adormecida de uma geração até então classificada por antropólogos e cientistas políticos como confusa, desiludida… conformada.

A ideia do doc foi reformulada várias vezes até o formato final: mostrar o poder de mobilização das redes sociais Além das cenas dos protestos locais, Fábio DeSilva, Buca Dantas e Matyeu Duvignaud conseguiram registros dos movimentos deflagrados na Espanha e na França. No segundo semestre viajam à Europa onde irão colher depoimentos de líderes do movimento e estudiosos do assunto. Outro diferencial do doc é o uso de imagens captadas por diferentes mídias: celular, iphone, hdv, mini dv, entre outros. Um blog será criado para receber esses registros do público.

O ineditismo na montagem e produção do doc paquera com o experimentalismo. No doc Sangue de Barro – último trabalho de Fábio DeSilva, em parceria com Maryland Brito – o formato também mostrou inovação. Mas foi diferente. “Quebramos um pouco a história da biografia de pessoas ilustres da cidade, muito presente nos doc’s potiguares. Resgatamos a história do anteherói, considerado bandido pela polícia; mesclamos imagens sujas de VHS com as de alta definição; e contamos de forma não-linear – também uma fuga dos padrões até então vistos por aqui”, conta Fábio DeSilva.

Em Inconformados!, a experimentação será o mote da produção. E desde o início foi assim. O primeiro propósito foi um registro simples do protesto contra os espigões na encosta do Morro do Careca. À época as redes sociais ainda engatinhavam e a pequena e barulhenta mobilização se deu via e-mail – um ensaio ao que viria depois. Quando o Twitter e o Facebook mostraram sua força, centenas de manifestantes protestaram pelas ruas da cidade contra a alta nos combustíveis. E Fábio DeSilva e Buca Dantas estavam lá para registrar o momento.

A repercussão da rasteg #combustivelmaisbaratoja no mundo real acendeu uma luz para os dois cineastas: percorrer toda a cadeia produtiva dos combustíveis, analisar a formação de cartel e produzir um doc montado exclusivamente nesse tema. Mas veio a revolta do ForaMicarla, representada por uma maioria de jovens inconformados com o atual cenário político. E milhares de natalenses assistiram nas ruas, na Câmara Municipal, nas redes sociais e na mídia tradicional o resultado da força popular. “Foi quando pensamos em algo bem maior: linkarmos esses movimentos às revoltas internacionais”.

A estimativa para exibição do documentário é no primeiro semestre do próximo ano. O projeto estará inserido nas duas leis de incentivo cultural locais. Os cineastas também buscam patrocínio extra junto à iniciativa privada. “Teremos a Copa do Mundo aqui e a temática abordada no documentário é internacional, podendo atrelar a marca da empresa ao filme e à produção cinematográfica potiguar”, ressalta Fábio. Alunos do curso de cinema da UnP participarão como estagiários. “Quebraremos paradigmas não só na montagem, mas no formato de coletivo de diretores na produção. O audiovisual potiguar precisa dessa união”, conclui.

* Publicado no Diário de Natal
- Foto: Francisco Noberto

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