Padre Matias Soares
O CARNAVAL, A FESTA SEM FÉ
Tive a oportunidade de participar, no último dia 10/02/2012 do evento religioso católico: Bote Fé. Tenho a imensa alegria de dizer que valeu a preparação e tempo dispensados na paróquia para motivar e organizar a nossa caravana para viver aquela fantástica experiência. Foram em torno de 30 mil pessoas, na sua maioria de jovens, que estiveram ali para encher o coração de fé, esperança e amor. Durante todo o tempo, não houve violência, drogas, alucinações; muito pelo contrário, a paz era clarividente, a alegria irradiante em todos os momentos, com o canto e com o silêncio, ou seja, essa de fato era a festa da fé, aquela de Deus, ou momento lúdico e humano por excelência.
Em contrapartida, haverá, por estes dias, o período carnavalesco. Este representa para a vida e a cultura do povo brasileiro a visualização das características festivas e evasivas daqueles que compõem as raízes históricas da nossa nação. Nalguns lugares, com manifestações mais expressivas, como no RJ, BH e PE, é patente que estas festividades em si têm o seu valor e sua beleza que proporcionam a errada interpretação do que seja a composição da identidade do povo brasileiro. No exterior, os ignorantes nos perguntam sempre por Carnaval e Futebol. Eis a imagem que passaram em nosso nome, sem que nós, que compomos esta multiforme conjuntura de raças e costumes, sequer temos a oportunidade de mostrar as diferenças regionais.
Questões a repensar são o alto índice de drogas que circulam nos foliões, a musicalidade de péssima qualidade, com sua superficialidade literária, acompanhada de vanidades, que sem dúvida não caracterizam os costumes e tradições que, de certo qual modo, deveriam ser sentidas e mostradas neste período do nosso calendário.
Uma possibilidade que merece ser aprofundada é o fato de que a fé é necessária para que uma comunidade, um povo, uma nação valorize a sua Cultura. Observemos que nos lugares onde há uma forma racional de ser celebrado o Carnaval, os elementos religiosos, e no caso cristãos, poderiam estar presentes. Temos que pensar o Carnaval como um dado cultural. Se não valoriza-se esta possibilidade é porque os componentes das nossas raízes não são conhecidos. Refiro-me ao conhecimento da nossa História; o que tudo isto poderia representar se nós tivéssemos fé e valorizássemos tudo o que foi vivido pelos nossos ancestrais? O período carnavalesco deveria ser meio de resgate destes valores que revitalizariam a vida civil, na qual a paz, a alegria, a fraternidade, a comunhão e o respeito mútuo estariam presentes, como no maravilhoso acontecimento do Bote Fé.
Por fim, repensemos estas questões para que a nossa querida Juventude possa viver num clima de paz e alegria. Como este e outros carnavais que virão, poderiam aprender, simbolicamente, com a próxima Jornada Mundial da Juventude, em 2013, como fazer com que a verdadeira manifestação de fé e identidade cultural pudessem recompor a real forma da alegria do povo brasileiro. Sem dúvida, muitos terão dificuldade de acolher esta possibilidade, provavelmente, pela falta de fé que impede a compreensão desta tentativa de “qualificação”, que ajudaria a termos um outro nível de Carnaval, que promovesse um tempo bem vivido, sem mortes, drogas, prostituição e estupidez. Que a Fé em Deus nos contagie e nos leve a uma leitura diferenciada da vida que merece ser contemplada com valores humanos e cristãos que nos vinculem ao Outro como nosso semelhante. O Carnaval ainda pode nos proporcionar tamanha alegria, que é dom de Deus. Assim o seja!
Pe. Matias Soares
Pároco de São José de Mipibú-RN
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